Igreja São José Carpinteiro

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Sede do Grupo de Coroinhas Kairós

sexta-feira, 5 de abril de 2013

SANTA IGREJA - ARTIGOS


Santa Igreja – Artigos

23/01/2011 – 15:45 Hs
Estimados leitores, depois de algum tempo sem postar no Blog volto com um artigo em PDF “Afinal, o que é a fé?” do Pe. Fernando Rocha Sapaterro.
Artigo: O que é a fé?
27/11/2010 – 11:03 Hs
Salve Maria!
Estimados leitores do Blog, disponibilizo abaixo a Apostila “Introdução ao Cristianismo” de Joseph Ratzinger. Junto com a apostila, disponibilizo um Link para Download de um testemunho de fé – em áudio –  do 1º Domingo do Advento. O ano litúrgico é uma escola de conversão. No advento somos chamados a sair do estado de esquecimento que é o pecado. Para isto devemos: a) vigiar; b) compreender e c) estar preparados. Espero enriquecer vosso conhecimento sobre o “ser cristão”.
Apostila “Introdução ao Cristianismo” Clique aqui
Áudio “Testemunho de Fé 1º Domingo do Advento” Clique aqui

O PENSAMENTO DO PAPA BENTO XVI,SEGUNDO O CARDEAL RATZINGER

O anúncio de Cristo e seu Evangelho em um mundo relativista é para o novo Papa, Bento XVI, um dos desafios centrais da Igreja.
Foi o que explicou o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação vaticana para a Doutrina da Fé, neste encontro com jornalistas, em 30 de novembro de 2002, ocorrido na Universidade Católica Santo Antonio de Múrcia, ao participar no Congresso Internacional de Cristologia.
Alguns interpretam em muitas ocasiões o fato de anunciar a Cristo como uma ruptura no diálogo com as demais religiões. Como é possível anunciar a Cristo e dialogar ao mesmo tempo?
Cardeal Ratzinger: Diria que hoje realmente se dá um domínio do relativismo. Quem não é relativista parece que é alguém intolerante. Pensar que se pode compreender a verdade essencial é visto já como algo intolerante. Mas na realidade esta exclusão da verdade é um tipo de intolerância muito grave e reduz as coisas essenciais da vida humana ao subjetivismo. Deste modo, nas coisas essenciais já não teremos uma visão comum.Cada um poderá e deverá decidir como pode. Perdemos assim os fundamentos éticos de nossa vida comum.
Cristo é totalmente diferente a todos os fundadores de outras religiões, e não pode ser reduzido a um Buda, ou a um Sócrates, ou um Confúcio. É realmente a ponte entre o céu e a terra, a luz da verdade que se apresentou a nós. O dom de conhecer Jesus não significa que não tenha fragmentos importantes de verdade em outras religiões. À luz de Cristo, podemos instaurar um diálogo fecundo com um ponto de referência no qual podemos ver como todos estes fragmentos de verdade contribuem a um aprofundamento de nossa própria fé e a uma autêntica comunhão espiritual da humanidade.
O que o senhor diria a um jovem teólogo? Que aspectos da cristologia lhe aconselharia estudar?
Cardeal Ratzinger: É importante, antes de tudo, conhecer a Sagrada Escritura, o testemunho vivo dos Evangelhos, tanto dos sinóticos como do Evangelho de São João, para escutar a autêntica voz. Em segundo lugar, são muito importantes os grandes concílios, sobretudo o Concílio de Calcedônia, assim como os sucessivos Concílios que declararam o significado dessa grande fórmula sobre Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. A novidade de que realmente é Filho de Deus, e realmente homem, não é uma aparência, pelo contrário, une Deus ao homem. Em terceiro lugar, sugiro aprofundar no mistério pascal: conhecer este mistério do sofrimento e da ressurreição do Senhor e deste modo conhecer o que é a Redenção. A novidade de que Deus, na pessoa de Jesus, sofre, leva nossos sofrimentos, compartilha nossa vida, e deste modo cria o passo à autêntica vida na Ressurreição. Trata-se de todo o problema da libertação da vida humana, que hoje está compreendida no mistério pascal, por uma parte se relaciona com a vida concreta de nosso tempo e, por outra, representa-se na liturgia. Parece-me central precisamente este nexo entre liturgia e vida, ambas fundadas no mistério pascal.
O que o cardeal Ratzinger aprendeu que não sabia já o teólogo Ratzinger?
Cardeal Ratzinger: A substância de minha fé em Cristo seguiu sendo sempre a mesma: conhecer este homem que é Deus que me conhece, que, como diz São Paulo, se entregou por mim. Está presente para ajudar-me e guiar-me. Esta substância continuou sendo sempre igual. No transcursode minha vida li os Padres da Igreja, os grandes teólogos, assim como a teologia presente. Quando eu era jovem, era determinante na Alemanha a teologia de Bultmann, a teologia existencialista; depois foi mais determinante a teologia de Moltmann, teologia de influência marxista, por assim dizer. Diria que no momento atual o diálogo com as demais religiões é o ponto mais importante: compreender como por uma parte Cristo é único, e por outra parte como responde a todos os demais, que são precursores de Cristo, e que estão em diálogo com Cristo.
Que deve fazer uma Universidade católica, portadora da verdade de Cristo, para fazer presente a missão evangelizadora do cristianismo?
Cardeal Ratzinger: É importante que em uma Universidade católica não se aprenda só a preparação para uma certa profissão. Uma Universidade é algo mais que uma escola profissional, na qual aprendo física, sociologia, química… é muito importante uma boa formação profissional, mas se for só isto não seria mais que um prédio de escolas profissionais diferentes. Uma Universidade tem de ter como fundamento a construção de uma interpretação válida da existência humana. À luz deste fundamento, podemos ver o lugar que ocupa cada uma das ciências, assim como nossa fé cristã, que deve estar presente a um alto nível intelectual.
Por este motivo, na escola católica, tem de se dar uma formação fundamental nas questões da fé e sobretudo um diálogo interdisciplinar entre professores e estudantes para que juntos possam compreender a missão de um intelectual católico em nosso mundo. Ante a busca atual de espiritualidade, muita gente recorre à meditação transcendental.
Que diferença há entre a meditação transcendental e a meditação cristã?
Cardeal Ratzinger: Em poucas palavras, diria que o essencial da meditação transcendental é que o homem se expropria do próprio eu, une-se com a universal essência do mundo; portanto, fica um pouco despersonalizado. Pelo contrário, na meditação cristã, não perco minha personalidade, entro em uma relação pessoal com a pessoa de Cristo, entro em relação com o “Tu” de Cristo, e deste modo este “eu” não se perde, mantém sua identidade e responsabilidade. Ao mesmo tempo abre-se, entra em uma unidade mais profunda, que é a unidade do amor que não destrói. Portanto, diria em poucas palavras, simplificando um pouco, que a meditação transcendental é impessoal, e neste sentido “despersonalizante”. Enquanto que a meditação cristã “é personalizante” e abre a uma unidade profunda que nasce do amor e não da dissolução do eu.
O senhor é prefeito para a Congregação para a Doutrina da Fé, o que antes se chamava a Inquisição. Muita gente desconhece os dicastérios vaticanos.Crêem que é um lugar de condenação. Em que consiste seu trabalho?
Cardeal Ratzinger: É difícil responder a isto em duas palavras: temos duas seções principais: uma disciplinar e outra doutrinal.
A disciplinar tem de se ocupar de problemas de delitos de sacerdotes, que, infelizmente, existem na Igreja. Agora temos o grande problema da pedofilia, como sabeis. Neste caso, devemos sobretudo ajudar os bispos a encontrar os procedimentos adequados e somos uma espécie de tribunal de apelação: se alguém se sente tratado injustamente pelo bispo, pode recorrer a nós.
A outra seção, mais conhecida, é doutrinal. Neste sentido, Paulo VI definiu nossa tarefa como “promover” e “defender” a fé. Promover, ou seja, ajudar o diálogo na família dos teólogos do mundo, seguir este diálogo, e alentar as correntes positivas, assim como ajudar as tendências menos positivas a conformar-se com as tendências mais positivas. A outra dimensão é defender: no contexto do mundo de hoje, com seu relativismo, com uma oposição profunda à fé da Igreja emmuitas partes do mundo, com ideologia agnóstica, atéia, etc., a perda da identidade da fé acontece com facilidade. Temos de ajudar a distinguir autênticas novidades, autênticos progressos, de outros passos que implicam uma perda de identidade da fé.
Temos à disposição dois instrumentos muito importantes para este trabalho, a Comissão Teológica Internacional, com 30 teólogos propostos por cinco anos com indicação dos bispos; a Comissão Bíblica, com 30 exegetas, também eles propostos pelos bispos. São foros de discussão para os teólogos para encontrar, por assim dizer, um entendimento internacional inclusive entre as diferentes escolas de teologia, e um diálogo com o Magistério.
Para nós é fundamental a colaboração com os bispos. Se for possível, devem resolver os problemas os bispos. Mas, com freqüência, trata-se de teólogos que têm fama internacional e, portanto, o problema supera as possibilidades de um bispo, de modo que é levado à Congregação. Aqui promovemos o diálogo com estes teólogos para chegar, se for possível, a uma solução pacífica. Só em pouquíssimos casos dá-se uma solução negativa.
Este último ano foi difícil para os católicos pelo espaço que tiveram nos meios de comunicação os escândalos atribuídos a sacerdotes. Alguns falaram de campanha contra a Igreja. O senhor, o que pensa?
Cardeal Ratzinger: Também na Igreja os sacerdotes são pecadores, mas estou pessoalmente convencido de que a permanente presença de pecados de sacerdotes católicos na imprensa, sobretudo nos Estados Unidos, é uma campanha construída, pois a porcentagem destes delitos entre sacerdotes não é mais elevada que em outras categorias, ou talvez seja mais baixa. Nos Estados Unidos, vemos continuamente notícias sobre este tema, mas menos de 1% dos sacerdotes são culpados de atos deste tipo. A permanente presença destas notícias não corresponde à objetividade da informação nem à objetividade estatística dos fatos. Portanto, chega-se à conclusão de que é manipulada, que se quer desacreditar a Igreja. É uma conclusão muito lógica e fundada.
Debate-se o que fato de que nos preâmbulos da futura Constituição européia apareça a palavra de Deus e referencias ao passado cristão da Europa. O senhor pensa que pode ter uma Europa unida de costas a seu passado cristão?
Cardeal Ratzinger: Estou convencido de que a Europa não deve ser só algo econômico, político, mas que tem necessidade de fundamentos espirituais. É um fato histórico que a Europa é cristã, e que cresceu sobre o fundamento da fé cristã, que segue sendo o fundamento dos valores para este continente, que por sua vez influiu em outros continentes. Parece-me indispensável ter um fundamento de valores e, se nos perguntamos qual é este fundamento, damo-nos conta de que não há outro fora dos grandes valores da fé cristã, por cima das confissões, e por isso para mim é indispensável que nesta Constituição futura da Europa fale-se dos fundamentos cristãos desta Europa.
Não quero cair no erro de construir um catolicismo político. A fé não indica imediatamente receitas políticas, mas indica os fundamentos. Por uma parte, a política tem sua autonomia, mas por outra parte não há uma separação total entre política e fé. Existem fundamentos da fé que criam depois um espaço livre para a razão política. Portanto, a pergunta é o que é que pertence a estes fundamentos para que possa funcionar a política. Quais são os aspectos que devem ser deixados livres?
Em primeiro lugar, é fundamental ter uma visão moral antropológica e aqui a fé nos dá a luz. Para ter esta visão antropológica, que garante a liberdade da razão política, é necessária a pessoa de Deus? Estou convencido de que uma moral que não conhece Deus se fragmenta e, portanto, aomenos a grande intuição de que há um Deus que nos conhece e nos indica a figura do homem, como imagem de Deus, pertence a estes fundamentos. Também [citar a Deus] não é um ato de violência contra ninguém, não destrói a liberdade de ninguém, mas abre a todos o espaço livre para poder construir uma vida realmente humana, moral.
Há professores de seminário do País Basco que chegam a justificar o terrorismo do ETA ou não o condena taxativamente. Parece que há conexões entre estes sacerdotes e a teologia da libertação. Fala-se inclusive de uma Igreja indígena basca. Que decisões se podem tomar contra isso?
Cardeal Ratzinger: Neste caso se aplica simplesmente o que a Congregação para a Doutrina da Fé disse entre os anos 1984 [instrução "Libertatis nuntius", e 1986, instrução "Libertatis conscientia"] sobre a teologia da libertação. Certamente o cristianismo se relaciona com a liberdade, mas a verdadeira liberdade não é uma liberdade política. A política tem sua autonomia, isto foi sublinhado sobretudo pelo Concílio Vaticano II e não deve ser construída pela fé como tal, deve ter sua racionalidade. Da Sagrada Escritura não se podem deduzir receitas políticas e muitos menos justificações do terrorismo. Parece-me que pelo que se refere a este caso específico, já está dito tudo nas duas instruções de nossa Congregação para a teologia da libertação. A novidade do messianismo cristão consiste em que Cristo não é imediatamente o messias político, que realiza a libertação de Israel, como se esperava. Este era o modelo de Barrabás, que queriam alcançar imediatamente inclusive com o terrorismo a libertação de Israel. Cristo criou outro modelo de libertação, que se realizou na comunidade apostólica, e na Igreja tal e como se constituiu, conformado, e testemunhado no Novo Testamento. Mas, como dizia, já tudo está dito nessas duas instruções.
Se fizermos um balanço da atividade inaudita do Papa João Paulo II, qual será a contribuição mais importante este papado? Como recordará o cristianismo a este Papa?
Cardeal Ratzinger: Não sou profeta, por isso não me atrevo a dizer o que dirão em cinqüenta anos, mas creio que será sumamente importante o fato de que o Santo Padre tenha estado presente em todas as partes da Igreja. Deste modo, criou uma experiência sumamente viva da catolicidade e da unidade da Igreja. A síntese entre catolicidade e unidade é uma sinfonia, não é uniformidade. Disseram isso os Padres da Igreja. Babilônia era uniformidade, e a técnica cria uniformidade. A fé, como se vê em Pentecostes, onde os apóstolos falam todos os idiomas, é sinfonia, é pluralidade na unidade. Isto aparece com grande clareza no pontificado do Santo Padre com suas visitas pastorais, seus encontros.
Penso que alguns documentos serão importantes para sempre: quero mencionar as encíclicas “Redemptoris missio”, a “Veritatis splendor”, a “Evangelium vitae” e também “Fides et ratio”. São quatro documentos que serão realmente monumentos para o futuro.
Por último, parece-me que se recordará sua abertura às demais comunidades cristãs, às demais religiões do mundo, ao mundo profano, às ciências, ao mundo político. Nisto, ele fez sempre referência à fé e a seus valores, mas ao mesmo tempo mostrou também que a fé é capaz de entrar em diálogo com todos.
Qual é a contribuição de João Paulo II ao diálogo inter-religioso?
Cardeal Ratzinger: O Santo Padre vê sua missão própria uma missão de conciliação no mundo, uma missão de paz. Enquanto no passado infelizmente se davam guerras de religião, o Santo Padre quer mostrar que a justa relação entre as religiões não é a guerra, não é a violência, é o diálogo e o intento de compreender os elementos de verdade que se dão nas demais religiões. O Santo Padrenão pretende relativizar a unicidade de Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida, mas quer mostrar que esta verdade sobre Cristo não pode anunciar-se com violência ou com o poder humano, mas só com a força da verdade. E para isso requer-se um contato humano de diálogo e de amor, como fizeram os apóstolos na grande missão da Igreja antiga: sem servir-se do poder mundano, utilizando a força da convicção. O testemunho do sofrimento, o testemunho da caridade e do diálogo convenceu o mundo antigo. O Santo Padre trata simplesmente de renovar esta força de diálogo e de amor dos primeiros séculos na relação com as religiões.
Foi dito que é necessário convocar um Concílio Vaticano III para que a Igreja vá se adaptando aos novos tempos. O que o senhor acha?
Cardeal Ratzinger: Antes de tudo, eu diria que é um problema prático. Não realizamos suficientemente a herança do Vaticano II, estamos trabalhando ainda para assimilar e interpretar bem esta herança, pois os processos vitais requerem tempo. Uma medida técnica se pode aplicar rapidamente, mas a vida tem caminhos muito mais longos. Requer-se tempo para que cresça um bosque, requer-se tempo para que cresça um homem… Deste modo, estes caminhos espirituais, como o da assimilação de um Concílio, são caminhos de vida, que têm necessidade de uma certa duração, e que não se podem percorrer de um dia para outro. Por isso, creio que não chegou o momento de um novo Concílio. Este não é o problema primário, mas seria também um problema prático. No Vaticano II tivemos dois mil bispos e era já sumamente difícil poder ter uma reunião de diálogo; agora teríamos quatro mil bispos e creio que haveria que inventar técnicas para o diálogo.
Quero recordar algo que sucedeu no século IV, século de grandes concílios. Quando convidaram, dez anos depois de um concílio, São Gregório Nazianzeno a participar em um novo concílio, disse: “Não! Eu não vou. Agora temos de seguir trabalhando sobre o outro. Temos tantos problemas. Para que quereis convocar imediatamente outro?”. Creio que esta voz um pouco emotiva mostra-nos que se requer tempo para assimilar um concílio.
No tempo intermediário entre dois grandes concílios, são necessárias, sobretudo, outras formas de contato entre os episcopados: os Sínodos em Roma, por exemplo. É necessário sem dúvida melhorar o procedimento, pois há muitos monólogos. Temos de encontrar realmente um processo sinodal, de um caminho em comum. Depois estão os sínodos continentais, regionais, etc. O trabalho efetivo das Conferências Episcopais. O encontro das Conferências Episcopais com a Santa Sé. Nós [na Cúria romana] vemos no transcurso de cinco anos todos os bispos do mundo. Melhoramos muito estas visitas “ad limina”, que antes eram muito formais e que agora são autênticos encontros de diálogo. Portanto, temos de melhorar estes instrumentos para ter um permanente diálogo entre todas as partes da Igreja e entre todas as partes com a Santa Sé, para chegar a uma melhor aplicação do Concílio Vaticano II. E depois veremos…
Como manter a fidelidade à Igreja e favorecer a comunhão, estando abertos a que o Espírito nos leve até a verdade completa. Ou seja, como é possível não cair no extremo de rigidez e ruptura?
Cardeal Ratzinger: Creio que é uma questão sobretudo da maturidade da fé pessoal. Aparentemente, fidelidade e abertura parecem excluir-se. Mas eu creio que a autêntica fidelidade ao Senhor Jesus, e a sua Igreja, que é seu Corpo, é uma fidelidade dinâmica. A verdade é para todos e todos estão criados para chegar ao Senhor. Seus braços abertos na cruz simbolizam para os Padres da Igreja ao mesmo tempo a máxima fidelidade, o Senhor cravado na cruz, e o abraço ao mundo, para atrair o mundo para si, e deixar espaço a todos. Portanto, uma autêntica fidelidade ao Senhor participa no dinamismo da pessoa de Cristo, que pode abrir-se aos diferentes desafios da realidade, do outro, do mundo, etc. Mas, ao mesmo tempo, encontra aí sua identidade profunda, que não exclui nada que seja verdadeiro, só exclui a mentira. Na medida em que entramos em comunhão com Cristo, em seu amor que nos aceita a todos e nos purifica a todos, na medida em queparticipamos na comunhão com Cristo, podemos ser fiéis e abertos.
Em que situação se encontra atualmente a comunicação ecumênica do conceito de Igreja? Depois da instrução “Dominus Iesus” (6 de agosto de 2000), da Congregação para a Doutrina da Fé, deram-se críticas entre representantes das Igrejas evangélicas, pois não aceitaram ou não entenderam bem declarações suas, pois o senhor dizia que mais que Igrejas deviam ser consideradas como comunidades cristãs.
Cardeal Ratzinger: O tema exigirá uma discussão longa. Em primeiro lugar, foi nos dito que, se na “Dominus Iesus” só tivéssemos falado do caráter único de Cristo, toda a cristandade teria ficado encantada com este documento, todos teriam se unido em um aplauso à Congregação. “Por que haveis acrescentado o problema eclesiológico que suscitou críticas?”, perguntaram-nos.
Contudo, era necessário falar também da Igreja, pois Jesus criou este Corpo, e Ele está presente através dos séculos através de seu Cristo, que é a Igreja. A Igreja não é um espírito que revoa. Estou convencido de que [na "Dominus Iesus"] interpretamos de maneira totalmente fiel a “Lumen Gentium” do Vaticano II, enquanto que nestes últimos trinta anos fomos atenuando o texto. De fato, nossos críticos nos disseram que ficamos na letra do Concílio, mas que não entendemos o Concílio. Ao menos reconhecem que somos fiéis à letra.
A Igreja de Cristo não é uma utopia ecumênica, não é algo que fazemos nós, não seria a Igreja de Cristo. Por isso, estamos convencidos de que a Igreja é um Corpo, não é só uma idéia, mas isto não exclui diferentes modos de uma certa presença da Igreja inclusive fora da Igreja Católica que são especificados pelo Concílio. Parece-me evidente que existem, portanto, matizes, e é compreensível que isto gere debates dentro da Igreja.
Pensa que a Igreja, especialmente no mundo ocidental, está preparada para enfrentar a descristiananização e o vazio da fé tão grande que há? Ou ainda se dá entre os homens da Igreja uma visão de cristandade, e não de uma Igreja missionária?
Cardeal Ratzinger: Creio que neste sentido temos muito que aprender. Ocupamo-nos muito de nós mesmos, das questões estruturais, do celibato, da ordenação das mulheres, dos conselhos pastorais, dos direitos destes conselhos, dos sínodos… Trabalhamos sempre sobre nossos problemas internos e não nos damos conta de que o mundo tem necessidade de respostas, não sabe como viver. Esta incapacidade de viver do mundo se vê na droga, no terrorismo, etc. portanto, o mundo tem sede de respostas, e nós ficamos em nossos problemas. Estou convencido de que se saímos ao encontro dos demais e apresentamos aos demais de maneira apropriada o Evangelho, se relativizarão e resolverão os problemas internos. Para mim, este é um ponto fundamental: temos de fazer o Evangelho acessível ao mundo secularizado de hoje.
Qual crê que possa ser o ponto de partida para coordenar o crescimento do poder técnico e científico da humanidade com a fé e a moral?
Cardeal Ratzinger: É algo que há que descobrir de novo, pois os paradigmas científicos mudam, e deste modo a situação do diálogo entre ciência e fé se encontra ante novos desafios. Um instrumento importante, por exemplo, é a Academia Pontifícia das Ciências, da qual agora sou também membro, e de fato há pouco participei pela primeira vez em uma de suas reuniões. Até agora era somente uma assembléia de cientistas: físicos, biólogos, etc; agora entraram também filósofos e teólogos. Vimos que é difícil o diálogo entre as ciências e a filosofia e a teologia, pois são modos totalmente diferentes de enfrentar a realidade, com métodos diferentes, etc. Um destes acadêmicos, era especialista na investigação do cérebro humano, disse: existem dois mundos inconciliáveis, por uma parte temos a ciência exata, para a qual, em seu campo, não há liberdade,não há uma presença do espírito, e por outra parte, dou-me conta de que sou um homem e sei que sou livre. Portanto, segundo ele, são dois mundos diferentes e não temos a possibilidade de conciliar estas duas percepções do mundo. Ele mesmo reconhecia que acreditava nos dois mundos: na ciência que nega a liberdade e em sua experiência de homem livre. Mas deste modo não podemos viver, seria uma esquizofrenia permanente. Nesta situação atual de uma aguda especialização metodológica por parte de ambas partes devemos buscar a maneira na qual se descubra a racionalidade do outro e encontrar um autêntico diálogo. Pelo momento, não existe uma fórmula. Por isso, é sumamente importante que se encontrem expoentes das duas partes do pensamento humano: as ciências, e a filosofia e a teologia. Assim podem descobrir que ambas são expressões da razão autêntica, mas devem compreender que a realidade é uma e que o homem é um. Por isso, é muito importante que, nas Universidades, as faculdades não estejam uma junto à outra, mas que estejam em um contato permanente, no qual aprendemos a pensar com os demais e a encontrar a unidade da realidade.
Fonte: Agência de Notícias ZENIT

Site Montfort, tradicionalistas, integristas e males congêneres…

Site Montfort… Não é tão católico quanto gostaria de ser!
Caros Visitantes, várias pessoas têm perguntado sobre as idéias e opiniões do site Montfort. Trata-se de um site católico, de pessoas que, penso, sejam sinceras.
No entanto, as idéias expressas nesse site não são expressão do sentir da Igreja. Há nele alguns graves problemas teológicos, que podem levar a uma deturpação da fé católica e chegar mesmo a uma ruptura com a Igreja.
Eis alguns pontos, entre outros:
1. Uma triste confusão entre Tradição e tradicionalismo, que termina por motivar um apego a formas e expressões do catolicismo que não são normativas nem obrigatórias nos dias atuais.
2. Alguns documentos do Magistério da Igreja são lidos de modo fundamentalista, fora do contexto histórico que lhes deram origem. O resultado é uma teologia torta, fechada e que em muito pouco exprime a genuína fé católica.
3. Há uma clara tendência de desvalorizar e menosprezar o Concílio Vaticano II. Isto é absolutamente inadmissível! O Concílio tem tanta autoridade quanto os concílios anteriores. Não se pode responder aos exageros “progressistas” da interpretação conciliar com os exageros “tradicionalistas” e integristas! Não se deve ser mais papista que o Papa! Um bom católico estará sempre em sincera comunhão com o Papa – e os papas Beato João XXIII, Servo de Deus Paulo VI, Servo de Deus João Paulo I, Servo de Deus João Paulo II Magno e Bento XVI sempre defenderam o Vaticano II na sua integridade e procuram coibir os excessos que possam existir na interpretação do Concílio. Combater o Vaticano II é colocar-se em choque com o Magistério papal e com o Colégio Episcopal, que são assistidos pelo Espírito Santo. Eis aqui um perigoso caminho que peca por presunção de ter mais discernimento que os legítimos pastores da Igreja, a quem o prometeu sua assistência! Toda vez que isso aconteceu, terminou-se numa triste heresia e em doloroso cisma…
4. Há um endeusamento da Missa de São Pio V que é errado, fora de contexto e trai a grande tradição litúrgica da Igreja. A Igreja tem, teve e terá sempre o direito e o dever de modificar seus ritos, de acordo com as circunstâncias e o discernimento da legítima autoridade apostólica, desde que não fira a essência mesma da estrutura sacramental. Nunca passou pela cabeça do Papa São Pio V que o missal por ele aprovado fosse eterno, perpétuo e irretocável! Isso é totalmente descabido e contrário à grande Tradição da Igreja! Nem os ritos primitivos, praticados pelos Apóstolos, tiveram essa pretensão de irretocabilidade! Essa idéia vem deu ma leitura que peca gravemente no seu método hermenêutico… Aqui acontece o que acontece com os protestantes fundamentalistas quando lêem a Bíblia! É verdade que tem havido graves distorções na liturgia no Brasil e no mundo, mas não se corrige tais problemas com soluções erradas e artificiais. Notem os meus leitores que o Papa Bento XVI é um amigo da Missa de São Pio V, mas não cai nos exageros dos tradicionalistas nem em desautoriza em nada o Concílio Vaticano II e o Missal de Paulo VI, tão legítimo quanto o trindentino.
Não duvido da boa fé desse irmãos do site Montfort e admiro seu desejo de transmitir a fé católica, mas lamento muito que confundam a fé da Igreja com uma determinada mentalidade, estreitando o frescor do Evangelho e desconhecendo que a Igreja é o Povo de Deus reunido como Corpo de Cristo e feito Templo do Espírito Santo peregrinando na história “entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus” até a Pátria eterna. Não se pode confundir a sensibilidade da Igreja em determinada época com a sensibilidade que deve perdurar para sempre…
Sugiro, portanto, aos meus caros Visitantes, muita prudência ao visitar o referido site, sabendo que estão entrando em contato com opiniões de um grupo que não está em plena sintonia com o sentimento da Igreja e de seus pastores, correndo, assim, o risco de afastarem-se da plena comunhão com a Igreja… O que ali houver de bom, aproveitem; o que tiver gosto de um tradicionalismo que se afasta do sentir do Papa e do Colégio Episcopal, evitem e não sigam…
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Excessos litúrgicos
Não sei se por influência daquele site chamado “Monfort” ou se por outro motivo, têm aparecido jovens com o desejo de participar da Santa Missa no rito de S. Pio V ou, pelo menos, no rito do Missal de Paulo VI em latim.
É um direito dos fiéis católicos participarem da Missa segundo o missal anterior ao atual. Basta que o Bispo diocesano julgue conveniente o pedido e determine uma igreja para a celebração.
No entanto, se esse desejo nascer de uma visão reacionária contra o Concílio Vaticano II e contra o Missal atual, promulgado pelo Papa Paulo VI – e esta é a visão do site Monfort –, tal desejo e tal pedido não podem ter cidadania na Igreja.
Quem nega a autoridade do Concílio Vaticano II e suas determinações ou quem refuta o Missal de Paulo VI, aprovado pela autoridade de um Papa legítimo e acolhido por todo o Episcopado e por toda a Igreja, afasta-se gravemente da comunhão de sentimento com a Igreja de Cristo. Isso é, pelo menos, temeridade, além de uma enorme soberba: pensar que compreende melhor a fé católica e lê melhor a Tradição que o próprio Episcopado em comunhão com o Sucessor de Pedro!
É assim: quando o Diabo não derruba pelo menos, ataca pelo mais!
No outro extremo está a contínua bagunça por parte do clero na celebração da Missa, num teimoso desrespeito ao Missal de Paulo VI e às normas litúrgicas da Igreja. De nada – de nada mesmo! – adiantaram os documentos de João Paulo II, da Congregação para o Culto Divino e de Bento XVI: cada um continua fazendo como bem quer e entende… E fica tudo por isso mesmo! Atualmente, chique é inventar moda na Missa! Cada um inventa a sua, pensando que descobriu a pólvora e inventou a roda!
É assim: um extremo leva a outro; excesso chama excesso…
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O site Montfort: doce veneno
Apareceu no site Montfort uma forte reação ao que escrevi sobre o referido site e a respeito da Missa de São Pio V como ele apresenta e defende (procure aqui o meu texto)… Não o transcreverei aqui e não indicarei o local do artigo, pois penso, sinceramente, que não vale a pena. Somente, a quem interessar possa, digo quanto segue, como sacerdote católico que deseja estar em plena, sincera e filial comunhão com a Igreja e seus legítimos pastores:
1. Reitero tudo quanto afirmei. O site Montfort desautoriza o Papa Paulo VI e seus sucessores e, assim, põe-se em rota de colisão com a Igreja. A fidelidade à Igreja católica não é a uma Igreja idealizada, mas à Igreja de hoje, com seus pastores e seus desafios!
2. Apesar de desejar ser sinceramente católico, esse site tem feito mal a muita gente que, sem critérios suficientes, termina caindo numa visão estreita do que é o cristianismo, a Igreja e a liturgia católica, com a boa fé e o triste engano de ser fiel à Tradição. A Tradição aí é confundida com imobilismo e rigidez… É esta miopia no modo de compreendê-la que chamo de tradicionalismo. O cristianismo é tradicional, não tradicionalista ou reacionário!
3. De modo gravíssimo, o pessoal do site Montfort desautoriza e tenta esvaziar o Concílio Vaticano II. É o mesmo erro dos que tentam esvaziar o Concílio de Trento e o Concílio Vaticano I. Todo católico deve ter o Vaticano II em tanta estima e considerção quanto qualquer outro concílio ecumênico. Com os mesmos argumentos tortos do pessoal do Montfort, há aqueles que desejam reduzir os concílios pós 1054 a concílios gerais do Ocidente. Exagero vai, exagero vem – e quem periclita é a fé católica e a unidade da Igreja!
4. O site Montfort adota uma visão meio paranóica, vendo conspiração maçônica e modernista em toda parte! O modernismo foi um erro combatido a seu tempo. Ainda hoje influencia certa teologia. Mas, não tem o menor sentido viver numa cruzada paranoicamente anti-modernista! Acusam de modernismo grandes teólogos do século XX, como Henri de Lubac e Yves Congar e denigrem a memória do grande teólogo Hans Urs von Balthasar! Todos esses teólogos eminentes e santos, apesar de serem somente padres, foram feitos cardeais por João Paulo II Magno e são queridíssimos de Bento XVI. Quanto a de Lubac, Ratzinger o considera um de seus mestres! Será que João Paulo II e Bento XVI são hereges modernistas? Ou será que são ignorantes tolos, que nem percebem o perigo desses teólogos? O site Montfort e outros sites tradicionalistas alardeam fidelidade ao Papa e depois minam-lhe a autoridade; citam o que interessa dos livros de Ratzinger, mas ignoram solenemente que o mestre teológico de Ratzinger é de Lubac! O Papa, para eles, serve somente no que lhes convém! É o mesmo raciocínio do pessoal da Teologia da Libertação! Os extremos se tocam…
5. O articulista do site Montfort foi injusto e desleal para comigo ao afirmar que defendo a ressurreição imediatamente após a morte. Não é verdade! Sempre critiquei duramente tal impostação! A ressurreição é um processo que se inicia logo após a morte, com a glorificação da alma, e terá sua consumação com a ressurreição corporal, no final dos tempos. É isso que ensino; é isso que a Igreja crê e a Congregação para a Doutrina da Fé reafirmou há alguns anos. E só isso. Não se deveria impugnar um sacerdote por ” eu ouvi dizer que” e por suposições infndadas… Seria bom fazer um exame de consciência! No entanto, sei que o meu modo de fazer teologia não agradaria ao pessoal do Montfort. Sou de outra escola e sou plenamente católico, sem restrições a papas ou concílios. Até me criticam por chamar de “Magno” a João Paulo II, afirmando que a Igreja não lhe deu esse título. A verdade, é que não aceitam realmente o Papa João Paulo… Quanto ao título “magno”, não é a Igreja quem o dá, mas a própria história pela boca das gerações. “Magno” não é título religioso! Por isso, Alexandre Magno, Pompeu Magno, Constantino Magno, Carlos Magno… Posso chamar João Paulo II de Magno (Grande), sim! Posso e devo, porque ele o foi: homem da Tradição, consciente do presente e aberto ao futuro! Nunca foi um tradicionalista enferrujado, peneumatômaco (= assassino do Espírito)! Assim, “Magno”, o chamou o Cardeal Sodano na homilia da Missa do dia seguinte à sua piedosa morte (“João Paulo, o Grande”); assim o chamou Bento XVI na sua primeira palavra após a eleição: “Depois do Grande Papa João Paulo II”; assim muitos o chamam na Europa… Estou bem acompanhado, portanto!
6. Quanto à discussão sobre o poligenismo ou monogenismo, é questão absolutamente aberta (não adianta citar erroneamente a Humani Generis de Pio XII, que não se pronunciou de modo infalível). Qualquer teólogo católico dirá isso. Nenhum católico é obrigado a pensar que a humanidade veio de um só casal. Eu defendo claramente o poligenismo, mas respeito quem pensa diversamente, pois não é assunto fechado. O problema do pessoal do Montfort é que também não aceita outra leitura da Escritura a não ser a que despreza o estudo dos gêneros literários (recomendado vivamente deste o tempo de Pio XII!)… É triste quando a fé tem que enterrar a cabeça para não ver a realidade e já não leva a sério as descobertas sérias da ciência! Que ironia: o pessoal do Montfort, que tem tanta raiva dos protestantes, nisso, é igualzinho aos protestantes fundamentalistas pentecostais dos EUA, que desejam proibir que se ensine a evolução nas escolas!
7. O problema do pessoal do Montfort é muita vontade de conhecer a teologia católica, mas sem os pressupostos teológicos necessários. Por falta de uma criteriologia no que diz respeito aos instrumentos hermenêuticos da ciência teológica, cai-se, então num fundamentalismo de dar pena – e me dá mesmo, sinceramente, porque esse pessoal, com seu zelo, poderia fazer um bem imenso à Igreja. Por outro lado, é doença intelectual mesmo dizer “odeio tudo que é moderno”. E é contraditório, pois se escreve isso com o teclado de um moderno computador, usando a internet, o meio mais moderno de comunicação! Pensem na esquizofrenia!
8. Não pretendo polemizar, mas repito: cuidado com o site Montfort, pois está se afastando do sentir com a Igreja… É o caminho que leva à heresia e ao cisma. É bom evitá-lo! Queira Deus que os jovens não se deixem levar por essas idéias obsessivas… É uma pena, porque a absolutização da própria Missa de São Pio V (em si, bela e legítima, mas chamada erroneamante de “Missa de Sempre” devido a um endeusamento, uma absolutização imprópria da liturgia de uma época determinada) terminará por fazer com que muitos Bispos neguem a permissão para celebrá-la, já que começa a se tornar uma bandeira do tradicionalismo (no sentido negativo mesmo) e do integrismo! Eu mesmo, que nada tenho contra esse belo rito, jamais o celebraria por quem me pedisse com essa mentalidade integrista; penso que nenhum Bispo de responsabilidade e senso eclesial fá-lo-ia!
Que pena! Repito: cuidado com o site Montfort: está fazendo mal; parece doce católico, mas é veneno! Descobri que aquele articulista lá não é tão sincero e honesto intelectualmente como eu pensava. Na verdade, é um bom sofista que adora arengar feito galo de briga, vendo heresia e perigo por todo lado! E só!
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Ainda sobre a Missa segundo o Missal de São Pio V
Caro e paciente Visitante meu, somente para que os leitores menos familiarizados com a guerra que os sites tradicionalistas (que são muitos) fazem contra a Missa no rito do Missal de Paulo VI, gostaria de esclarecer que o grande cavalo da batalha desses grupos é a Bula Bula Quo Primum Tempore, de São Pio V, datada de 1570. Nesta bula, o Papa promulga o Missal Romano reformado por determinação do Concílio de Trento. Lá para as tantas, explicitando a promulgação, com a linguagem solene e peremptória própria dos papas dos séculos anteriores, o Santo Padre Pio V afirma: “A fim de que todos, e em todos os lugares, adotem e observem as tradições da Santa Igreja Romana, Mãe e Mestra de todas as Igrejas, decretamos e ordenamos que a Missa, no futuro e para sempre, não seja cantada nem rezada de modo diferente do que esta, conforme o Missal publicado por Nós, em todas as Igrejas…” Mais adiante, o Papa afirma: “Quanto a todas as outras sobreditas Igrejas, por Nossa presente Constituição, que será valida para sempre, Nós decretamos e ordenamos, sob pena de nossa indignação, que o uso de seus missais próprios seja supresso e sejam eles radical e totalmente rejeitados; e, quanto ao Nosso presente Missal recentemente publicado, nada jamais lhe deverá ser acrescentado, nem supresso, nem modificado”. São estes “para sempre” o cavalo de batalha dos tradicionalistas: nunca, jamais, de nenhum modo, em tempo algum poder-se-ia alterar o rito da Missa tal como Pio V o aprovou! Ora, afirmar isto é algo totalmente fora de propósito e teologicamente errôneo! Dou somente alguns motivos:
1. É necessário compreender o contexto desta Bula. A Igreja estava reagindo à Reforma protestante, que difundiu erros graves contra a fé católica. Muitos desses erros tocavam os sacramentos, sobretudo a Eucaristia. Um dos modos que a Igreja julgou eficaz para combater o erro e manter a unidade da fé foi desencorajar o uso dos vários ritos de celebração da Missa, ritos que existiam em várias regiões da Europa. Só a título de exemplo: o rito ambrosiano, na Diocese de Milão, o rito próprio da Diocese de Braga, o rito de Dijon, ainda hoje com alguns resquícios entre os monges trapistas, o rito da Grenoble, guardado pelos monges cartuxos, o rito moçarábico, em regiões da Espanha, etc. Por isso mesmo, na sua Bula, São Pio V determina que somente é permitido que permaneçam sendo usados os ritos que tenham mais de 200 anos. Interessante que o santo Papa nunca pensou que em toda a Igreja deveria existir somente o rito do missal que ele estava aprovando. Os ritos ocidentais com mais de 200 anos poderiam continuar existindo; sem contar os venerabilíssimos ritos das Igrejas orientais católicas ou ortodoxas, como a liturgia da São Basílio ou a de São João Crisóstomo, que a Igreja sempre teve em alta conta… Se a grande maioria dos ritos ocidentais desapareceu não foi por proibição de São Pio V, mas por obra dos monges beneditinos de Solesmes, na França, que no século XIX fizeram todo um trabalho de exaltação do rito romano com sua sobriedade, e crítica a aspectos dos outros ritos. Era uma época de forte centralização romana na Igreja, por motivos históricos válidos e compreensíveis.
2. O Santo Padre Pio V, com a linguagem que usou, jamais pensou em proclamar como um “dogma” o seu Missal! Um papa – qualquer papa – somente pode falar de modo definitivo e infalível em dois casos: 1) Quando proclama ou ensina “ex cathedra” sobre fé e moral, nunca sobre disciplina litúrgica não revelada e 2) Quando, interpretando o magistério ordinário do inteiro Colégio dos Bispos sobre fé e moral, proclama que uma determinada doutrina de fé e moral pertence à fé católica tal como revelada por Deus – e isto de modo definitivo (foi o caso da doutrina segundo a qual as mulheres não podem receber a ordenação sacerdotal. Esta sim, é definitiva e irreformável!). Fora disso, o Papa não pode falar de modo definitivo! São Pio V, coitado, apenas promulgou uma Bula para aprovar o belíssimo Missal, fruto da reforma litúrgica do Concílio de Trento! Nunca, em quinhentos anos, se pensou que o Missal seria irreformável! A prova disso é que o Bem-aventurado João XXIII, antes do Vaticano II, fizera uma pequena modificação no Cânon Romano, acrescentando à lista dos santos aí citados, o nome de São José, esposo da Virgem Maria. Pela interpretação dos tradicionalistas, jamais João XXIII poderia ter feito isso!
3. Nenhum Papa é obrigado a manter as normas disciplinares de um outro. O Papa somente não pode mudar aquilo que é de fé e moral revelada e, portanto, faz parte do Depósito da Fé! Quanto ao resto, ele tem plena autoridade na Igreja! O Papa atual não é são Pio V: é Bento XVI, como o da reforma litúrgica pós-Vaticano II era o Servo de Deus Paulo VI, de santa memória! Cada um, no seu tempo, gozou de poder supremo, imediato, episcopal e pleno na Igreja por vontade do próprio Senhor.
4. É importante recordar que sempre a liturgia da Missa, desde as origens, vem passando por reformas e evoluções – é coisa normal. Compete ao Papa a última palavra sobre esses assuntos. É verdade que o Missal de Paulo VI é fruto de uma reforma bastante profunda em relação ao Missal anterior. O atual Papa reconhece isso. Ele admira e vê muitos méritos no atual Missal, mas lamenta que não se tenha preservado mais do antigo Missal. Pessoalmente, eu penso assim também: a reforma litúrgica não foi de todo feliz… Pode-se gostar ou não dessa reforma de Paulo VI; o que não se pode é afirmar que ela é heterodoxa ou ilícita! O que não se pode também – e o atual Papa nunca o fez – é absolutizar o Missal de São Pio V de modo totalmente impertinente e unilateral! É uma triste ignorância do que é a liturgia, de como ela faz parte da perene e ao mesmo tempo dinâmica Tradição da Igreja e como ela evolui e evoluirá sempre no decorrer da história.
5. É totalmente falso que o Missal de Paulo VI deturpe ou macule ou mutile a fé católica! O Missal deve ser utilizado, interpretado e vivenciado no contexto de toda a doutrina da Igreja e não como um texto isolado em si mesmo, pois que a oração da Igreja, sobretudo a litúrgica, brota da sua vida e da sua fé e, ao mesmo tempo, as exprime!
6. Por outro lado, os tradicionalistas têm razão quando deploram e rejeitam todos os abusos e loucuras cometidas nos últimos anos na liturgia em nome de uma tal de “criatividade”, compreendida de modo totalmente contrário ao pensamento da Igreja e ao magistério dos últimos papas! Quantas vezes tenho denunciado isso neste blog! Se o Missal de Paulo VI fosse usado como a Igreja pede e determina, muito desse mal-estar poderia ser evitado!
7. Quero deixar bem claro que é possível e plenamente legítimo amar e apreciar a beleza do rito da Missa segundo o Missal de são Pio V e desejar celebrar a Eucaristia nesse rito. O que atrapalha e é errado é refutar o Vaticano II, acusar Paulo VI e absolutizar (= endeusar), como se fosse determinação eterna, uma norma de um Papa que nunca teve a intenção de dar um alcance absoluto a suas palavras! O Missal de São Pio V foi um a mais na longa evolução da litúrgica da Igreja. A “Missa de Sempre”, a que se referem insistentemente os tradicionalistas, é o Sacramento da Eucaristia, seja em que rito legítimo seja celebrada: rito romano, melquita, maronita, malaber, malankar, ucraniano, copta, armeno, etíope, bizantino paleoeslavo, etc…
Observação minha: Só, a título de esclarecimento, uma questão interessante: E se São Pio V tivesse pensado realmente em decretar que o seu Missal seria para sempre, os papas seguintes poderiam mudar isso? Poderiam, perfeitamente! São Pio V teria (o que não fez) exorbitado nas suas prerrogativas! Um Papa somente pode determinar para sempre o que pertencer ao Depósito da Fé. Sobre o modo de celebrar a Eucaristia o que pertence ao Depósito da Fé é que deve ser celebrada por um sacerdote validamente ordenado, que o povo de Deus concorre na celebração, que deve haver liturgia da Palavra e liturgia eucarística, que se devem usar como matéria o pão e o vinho (com água). Sobre o restante, em questão de rito, a Igreja tem plena autoridade de dispor e determinar… Aliás, essa história de “não poder mudar nada” é o mesmo argumento que os ortodoxos usam para acusar os católicos de terem mudado o Credo, acrescentando o Filioque. Isso porque eles se apegam a uma expressão fora de contexto, presente no Concílio de Calcedônia: “Depois de termos estabelecido tudo com toda a possível acríbia e diligência, o santo Sínodo ecumênico decidiu que ninguém pode apresentar, escrever ou compor uma outra fórmula de fé ou julgar ou ensinar de outro modo”… Pois bem: o Credo do Missal de são Pio V traz o “acréscimo” do Filioque, que a Igreja latina fez ao Símbolo niceno-constantinopolitano na Alta Idade Média! Os tradicionalistas que absolutizam a Bula Quo Primum Tempore, deveriam também, para serem coerentes, dar razão aos ortodoxos e afirmar que a Igreja católica todinha caiu em heresia porque acrescentou o Filioque ao Credo! Como se pode ver, é necessário saber manejar as categorias da teologia de acordo com seus princípios epistemológicos e hermenêuticos. Do contrário, haja tempestade em copo d’água e haja bobagem dita com ares de douta erudição!
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A Igreja e a salvação dos não-católicos
Caro Visitante, aqui vão alguns passos da Declaração Dominus Iesus, aprovada pelo Papa joão Paulo II, que tanta polêmica suscitou, mas que exprime perfeitamente a verdadeira fé da Igreja de Cristo. Às vezes, temos a tentação de imaginar uma Igreja da nossa cabeça e à nossa medida. Então, deliramos! Quem se interessar em saber a real doutrina da Igreja sobre a possibilidade de salvação para quem não está nela visivelmente, pode ler quanto segue… Ao ser ordenado, jurei pregar e defender a fé católica, em comunhão com o Papa e em plena fidelidade ao Magistério. Por isso transcrevo com alegria estas linhas. Não são minhas; sou apenas um simples divulgador da fé da Igreja de Cristo…
No. 16: Assim, e em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da Igreja por Ele fundada. Como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: «uma só Igreja católica e apostólica». Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca abandonar a sua Igreja (cf. Mt 16,18; 28,20) e de guiá-la com o seu Espírito (cf. Jo 16,13) comportam que, segundo a fé católica, a unicidade e unidade, bem como tudo o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar.
Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na sucessão apostólica — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: «Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cf. Jo 21,17), encarregando-o a Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,18ss.); levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cf. 1Tm 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste [subsistit in] na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele». Com a expressão «subsistit in», o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que «existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição », isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica[1]. Acerca destas, porém, deve afirmar-se que «o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica».
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[1] É, portanto, contrária ao significado autêntico do texto do Concílio a interpretação que leva a deduzir da fórmula subsistit in a tese, segundo a qual, a única Igreja de Cristo poderia também subsistir em Igrejas e Comunidades eclesiais não católicas. «O Concílio, invés, adotou a palavra “subsistit” precisamente para esclarecer que existe uma só “subsistência” da verdadeira Igreja, ao passo que fora da sua composição visível existem apenas “elementa Ecclesiae”, que — por serem elementos da própria Igreja — tendem e conduzem para a Igreja Católica» [Congr. para a Doutrina da Fé, Notificação sobre o volume “Igreja: carisma e poder” do Fr. Leonardo Boff: AAS 77 (1985) 756-762].
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No.17: Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares. Por isso, também nestas Igrejas está presente e atua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objetivamente tem e exerce sobre toda a Igreja.
As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram batizados nestas Comunidades estão pelo Batismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja. O Batismo, efetivamente, tende por si ao completo desenvolvimento da vida em Cristo, através da íntegra profissão de fé, da Eucaristia e da plena comunhão na Igreja.
«Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma — diferenciada e, de certo modo, também unitária — das Igrejas e Comunidades eclesiais; nem lhes é permitido pensar que a Igreja de Cristo hoje já não exista em parte alguma, tornando-se, assim, um mero objeto de procura por parte de todas as Igrejas e Comunidades». «Os elementos desta Igreja já realizada existem, reunidos na sua plenitude, na Igreja Católica e, sem essa plenitude, nas demais Comunidades». «Por isso, as próprias Igrejas e Comunidades separadas, embora pensemos que têm faltas, não se pode dizer que não tenham peso no mistério da salvação ou sejam vazias de significado, já que o Espírito Se não recusa a servir-Se delas como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica».
A falta de unidade entre os cristãos é certamente uma ferida para a Igreja; não no sentido de estar privada da sua unidade, mas «porque a divisão é um obstáculo à plena realização da sua universalidade na história».
No. 20: Antes de mais, deve crer-se firmemente que a « Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Baptismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Baptismo tal como por uma porta ». Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tim 2,4); daí « a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação ».
A Igreja é « sacramento universal de salvação», porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a salvação de cada homem.Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, « a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo ». Tem uma relação com a Igreja, que por sua vez « tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai ».
No. 21. Quanto ao modo como a graça salvífica de Deus, dada sempre através de Cristo no Espírito e em relação misteriosa com a Igreja, atinge os não cristãos, o Concílio Vaticano II limitou-se a afirmar que Deus a dá « por caminhos só por Ele conhecidos ». A teologia esforça-se por aprofundar a questão. Há que encorajar esse esforço teológico, que sem dúvida serve para aumentar a compreensão dos desígnios salvíficos de Deus e dos caminhos que os realizam. Todavia, de quanto acima foi dito sobre a mediação de Jesus Cristo e sobre a « relação única e singular» que a Igreja tem com o Reino de Deus entre os homens — que é substancialmente o Reino de Cristo Salvador universal —, seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma, embora convergindo com ela para o Reino escatológico de Deus.
Não há dúvida que as diversas tradições religiosas contêm e oferecem elementos de religiosidade, que procedem de Deus, e que fazem parte de « quanto o Espírito opera no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões ». Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho, enquanto ocasiões ou pedagogias que estimulam os corações dos homens a se abrirem à ação de Deus. Não se lhes pode porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos. Por outro lado, não se pode ignorar que certos ritos, enquanto dependentes da superstição ou de outros erros (cf. 1 Cor 10,20-21), são mais propriamente um obstáculo à salvação.
No. 22. Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (cf. At 17,30-31). Esta verdade de fé nada tira ao fato de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista « imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra” ».Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objetivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação. Há que lembrar, todavia, « a todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais severo ». Compreende-se, portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor para com todos os homens, a Igreja « anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou todas as coisas consigo ».
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Um verdadeiro critério para um verdadeiro católico
A Igreja de Cristo é peregrina; caminha na história. Isto faz parte da sua essência, pois que ela é continuadora e testemunha da obra salvífica de Deus que, sendo eterno e imutável, entrou no tempo dos homens, primeiro na história de Israel, o Povo eleito da Antiga Aliança e, na plenitude dos tempos, de modo pleno, em Jesus Cristo, Cabeça e princípio da Igreja e Salvador da humanidade.
A verdade de Deus, transmitida na Tradição apostólica, é imutável, mas vai sendo compreendida cada vez mais, cada vez melhor, cada vez de modo mais abrangente pela Igreja através do tempo. Não há como fugir disso: a temporalidade, a progressão, é inerente ao homem! Como também as limitações da cultura de cada tempo e civilização. E a Igreja, portadora da eternidade que entrou no tempo, vai peregrinando, vai compreendendo sempre mais e melhor nos caminhos da história; assim vai exprimindo sempre a mesma Verdade – que não é simplesmente uma teoria ou uma doutrina, mas uma Pessoa: Jesus Cristo – de modos novos e com palavras novas.
Mas, ela não precisa temer! Cristo lhe prometeu: “Eu estarei convosco até o fim dos tempos!” Prometeu-lhe também o “Espírito da Verdade”, que haverá sempre de conduzir adiante a sua Igreja, até a Verdade plena, pois testemunhará sempre Jesus e sua salvação: “Ele tomará do que é meu e vo-lo anunciará!” Por isso a Igreja sabe que nunca poderá errar na sua profissão de fé.
Essa profissão não é um velho baú, cheio de verdades teóricas enferrujadas, mas, ao invés, é a viva Tradição apostólica, sempre interpretada de novo sob a guia do Espírito Santo, suscitando sempre novos desafios ante os desafios de cada época, de modo que, cada geração eclesial pode ter certeza de permanecer na mesma fé, sempre igual e sempre nova.
E para que a guarda da verdadeira fé e o modo de interpretá-la e transmiti-la fosse autêntico, sem cair nos delírios dos avançados nem no medo e no apego doentio a uma segurança do passado, própria dos atrasados, Cristo dotou a sua Igreja de um Magistério, formado pelo Papa, Sucessor de Pedro, e pelos Bispos em comunhão com ele, sucessores dos Apóstolos. Somente eles têm a autoridade dada pelo Cristo e confirmada pelo Espírito de interpretar retamente a fé da Igreja.
Num mundo confuso, numa Igreja batida por tantas ondas, quando Satanás, ao não vencer pelo menos do relaxamento e da secularização, tenta enganar pelo mais do exagero e de um tradicionalismo tão bobo quanto prepotente, a humilde comunhão com os pastores reais que o Cristo real colocou à frente do rebanho, é a mais decisiva garantia de que estamos seguros na verdadeira fé. Que Deus nos conserve, caro Visitante, neste caminho! As portas do inferno não prevalecerão! Valerá sempre o velho axioma, tão repetido pela sã Tradição: Ubi Petrus, ibi Ecclesia catholica!” – Onde está Pedro, aí está a Igreja católica! Para não haver dúvida: o nome de Pedro é Bento XVI…
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Caro Visitante, respondendo a um comentário que me enviaram no texto que escrevi sobre o site tradicionalista Montfort,(cf. Texto do dia 23/6: Site Monfort: um doce veneno – I) citei um caso de excomunhão por parte de Pio XII. Aqui vão os detalhes: Pelos anos 40 do século passado, alguns membros do St. Benedict’s Center e do Boston College interpretavam de modo contrário ao sentir da Igreja a fórmula da Tradição “Fora da Igreja não há salvação”. Segundo esses, todas as pessoas que não fossem católicas estariam excluídas da salvação eterna. O Santo Padre Pio XII condenou tal pensamento na Encíclica Mystici Corporis e excomungou o teólogo Leonard Feeney, em 1953, por manter teimosamente tal pensamento. Eis alguns trechos da Carta do Santo Ofício ao Arcebispo de Boston, sobre o assunto, escrita sob a autoridade de Pio XII. Vou comentá-la…
Entre as coisas que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar está também a afirmação infalível que nos ensina que “fora da Igreja não há salvação”. Este dogma, porém, deve ser entendido no sentido em que a própria Igreja o entende. Com efeito, não é ao juízo privado que nosso Salvador confiou a explicação do que está contido no depósito da fé, mas ao magistério eclesiástico.
Ninguém será salvo se, sabendo que a Igreja foi divinamente instituída por Cristo, todavia não aceita submeter-se à Igreja ou recusa obediência ao Romano Pontífice, vigário de Cristo na terra.
Na sua infinita misericórdia, Deus quis que os efeitos necessários para a salvação provenientes destes meios de salvação… fossem também obtidos, em certas circunstâncias, quando este meios são acionados só pelo voto ou desejo… Pois, para que alguém obtenha a salvação eterna não é sempre necessário que seja efetivamente incorporado à Igreja como membro, mas requerido é que lhe esteja unido por voto e desejo. Todavia, não é sempre necessário que este voto seja explícito… mas, quando o homem é vítima de ignorância invencível, Deus aceita também o voto implícito, chamado assim porque incluído na boa disposição de alma pela qual essa pessoa quer conformar sua vontade à vontade de Deus… (Denz 3866-3872).
Não se pode compreender como um religioso, a saber, o Pe. Feeney, se pode apresentar como “defensor da fé”, se ao mesmo tempo não hesita em combater a instrução catequética proposta pelas autoridades legítimas.. (Denz 3873).
Observação minha:
1. Fiz questão de citar este texto porque é do pontificado do Santo Padre Pio XII, o herói dos tradicionalistas e, no ver deles, o último papa autêntico e sério.
2. Observem bem como o texto adverte que ninguém deve pretender interpretar os textos do Magistério modificando o sentido que o próprio Magistério lhes dá! Isso os tradicionalistas deveriam aprender, eles que ficam citando textos magisteriais fora do contexto, como os protestantes fundamentalistas fazem com as Escrituras. É clara a queixa do documento aprovado por Pio XII: “Não se pode compreender como um religioso, a saber, o Pe. Feeney, se pode apresentar como ‘defensor da fé’, se ao mesmo tempo não hesita em combater a instrução catequética proposta pelas autoridades legítimas…”
3. Vamos à doutrina ensinada aqui: Pio XII ensina que a fórmula “Fora da Igreja não há salvação” é dogma de fé. É verdade! Mas, adverte que não pode ser compreendida no sentido restritivo: quem não é católico não se salva. Eis a explicação: O meio ordinário, meio querido por Deus, para a salvação é entrar e permanecer na Igreja católica. Mas, todo aquele que sem culpa, está fora da Igreja, pode se salvar pela imensa misericórdia de Deus. O próprio Concílio de Trento, ao tratar do Batismo e da Penitência, já havia acenado para tal possibilidade, pois nunca foi fé da Igreja que quem não é católico não se salva. Tal interpretação é herética!
4. O Concílio Vaticano II, seguindo os passos da antiga Tradição, expressa nas Escrituras, nos primeiros Santos Padres, como São Justino e Santo Irineu, bem como no magistério de Pio XII, desenvolveu de modo mais orgânico e completo esta doutrina: Cristo é o Salvador de todos e não há salvação fora dele. Todo aquele que se salva – mesmo que, sem culpa, não reconheça o Cristo como Salvador – somente será salvo porque Cristo morreu por todos, de modo que, fora de Cristo não há salvação. Ora, a Igreja, como Corpo de Cristo, é ministra de tal salvação. Toda salvação possível dá-se pelo ministério da Igreja. Assim, todo aquele que, sem culpa, não entre ou não permanece na Igreja, se for reto de consciência e verdadeiramente buscar a Deus do melhor modo que lhe for possível, pode, graças à salvação que Cristo obteve e a Igreja ministra, alcançar a salvação.
5. Com tal doutrina, o Concílio, seguindo a Tradição da Igreja, mantém unidas duas afirmações: 1) A Igreja é necessária para a salvação e todos são chamados a ela; e 2) É possível para um não-católico ou não-cristão sincero a salvação por meios que só Deus conhece, pois que Cristo, cabeça da Igreja, morreu por todos.
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Caro Internauta, não se deve pensar que a permissão do Santo Padre para que se celebre livremente a Santa Missa segundo o Rito da reforma do Concílio de Trento seja uma concessão à visão reacionária dos grupos que rejeitam a autoridade do Concílio Vaticano II – como o pessoal do site Montfort, Permanência e outros do gênero.
Quem ler o Motu Proprio de Bento XVI compreenderá isso claramente. O Papa deseja apenas, com este gesto, enfatizar que há uma continuidade entre a liturgia pré-conciliar e a atual; continuidade num orgânico desenvolvimento e evolução, não numa ruptura.
Bento XVI deseja também ser sensível e justo para com os fiéis que desejem celebrar os santos mistérios segunda a liturgia pré-conciliar.
No entanto, que os sacerdotes estejam bem atentos: não devem celebrar esta Missa para grupos de fiéis que rejeitem o Concílio Vaticano II, pois, então, a Missa serviria de bandeira contra o Concílio e seu magistério! Tradição, sim; tradicionalismo, não!

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